A Bíblia registra sobre uma conversa de Deus com Abraão, quando lhe disse: “Sai da sua cidade, deixe os seus parentes e venha conhecer uma nova terra. Farei de você e Sara um grande povo e você será famoso. Aqueles que o abençoarem, eu os abençoarei e por meio de vocês, trarei bênçãos a todas as famílias da terra.” – Gênesis 12.1-3

Com essa declaração maravilhosa e desafiadora, aprendemos que:

  1. A iniciativa de abençoar é algo que está no coração divino, seja qual for o casal. Ele nos criou para isso (Gênesis 1.28). Abraão e Sara não foram merecedores de bênçãos especiais nem antes e nem depois do chamado divino. Deus fez este pacto por iniciativa pessoal, tal como foi com a vinda de Jesus. Isto é exemplo do que Ele pode fazer em nossa vida. Ele disse a Abraão: “farei de você uma bênção”. Ele pode restaurar algo quebrado e recomeçar um novo relacionamento. Eles falharam várias vezes, mas buscaram acertar nos próximos passos. Deus é fiel, apesar da nossa infidelidade. As bênçãos divinas são muito mais do que uma boa saúde, uma casa, filhos amorosos, mas são, prioritariamente, a herança espiritual e eterna que advém das fiéis promessas do Pai, do sacrifício perfeito do Filho na cruz e da confirmação da salvação pelo selo do Espirito Santo em nós (Efésios 1.3-14).
  2. As bênçãos divinas também são condicionais e nem sempre nós a ganharemos facilmente. No caso deles, foi necessário perder para ganhar. Eles deixaram a segurança da terra conhecida e a comodidade dos familiares para um projeto novo, o qual seria confirmado para sempre. Desde o Éden, Deus já definiu que a benção viria ao “deixar os pais, unir-se à sua mulher e serem os dois uma nova unidade”. Não há casal que, ao desejar ser abençoado na sua nova vida familiar, não fique sem a “perda” de um outro relacionamento. Só é possível ser abençoado quando se assume esse princípio divino. Deus chamou esse casal sem filhos, como no início da criação. Jesus fala que para segui-lo precisa haver renúncia e isso aconteceu com todos os seus discípulos. Renunciar aos nossos desejos e planos é confiar nos propósitos e nas aventuras divinas.
  3. Ser abençoado e abençoador significará andar pelos caminhos de Deus – e nem sempre será claro e fácil, pois teremos que confiar nas estratégias divinas. Só pela fé nele é que o agradaremos (Hebreus 11.6). Fé é apenas confiar, e não entender. Entender é confiar no que Deus diz e faz, e não no que vejo. Como compreender as muitas lutas enfrentadas por esse casal e ainda pensarem em bênçãos? Eles precisaram esperar muito tempo para ver concretizado o desejo e a promessa de terem um filho. Como confiar num plano de uma descendência próspera quando a esposa é estéril? O plano de Deus para a vida deles foi longo e sem aposentadoria, pois o Senhor olhava para frente, inclusive para a eternidade. Como viver bem se na terra prometida ele só andou por ela e o máximo que conseguiu foi comprar para a família um terreno no cemitério? De fato, Abraão nunca viu essas promessas confirmadas, mas só confiou no Deus que planeja tudo perfeitamente. Não é real pensar que, para quem segue ao Senhor, tudo dará certo, que não terá decepções pelo caminho. Abraão só foi reconhecido como pai da fé depois de trilhar muitos roteiros duvidosos com o Senhor, onde precisou exercitar a sua frágil confiança.
  4. Ser abençoado por Deus e colocar-se como meio de levar bênçãos a outros implicaram para o pai a entrega do filho amado no altar sacrificial ao próprio Deus. Seria sensato e amoroso sacrificar um filho sobro o qual existia todas as promessas de uma descendência fértil para a família? Foi uma decisão unilateral de um marido e um pai que, por sua crença, permitiu o seu filho sofrer? Será que Sara foi consultada para essa decisão? Por que não entregar um outro filho “menos amado” que havia sido gerado em circunstâncias apressadas e só prazerosas? Ser abençoado significa também ser testado. Não há benção sem a cruz. O próprio Deus e Pai decidiu entregar o seu filho unigênito em o nosso lugar e o fez com muito sofrimento. No caso de Abraão, Deus interveio na última hora e ficou célebre a sua expressão sobre o “Deus proverá”. Ele se fortaleceu em todo o tempo crendo nas possibilidades divinas e isso o encheu de esperança, crendo até na ressurreição do filho (Romanos 4.18-21). Mediante esse exemplo, é possível ter a mesma confiança que o Deus abençoador nos provará, mas nos tornará mais abençoadores na vida dos outros.

O apóstolo Paulo viveu a experiência da difícil entrega da sua vida e manteve-se esperançoso, por confiar que poderia ser mais útil pela graça divina e com as consoladoras misericórdias do Pai consolador. Ele disse num contexto de aprendizado com o Senhor:

“A minha graça é suficiente para você. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim”. – II Coríntios 12.9

“Bendito o Deus e Pai que nos consola em todas as nossas tribulações e com a consolação que recebemos dele, nós poderemos consolar os que estão passando por tribulações. Se somos atribulados é para consolação e salvação de vocês; se somos consolados, é para consolação de vocês.” – II Coríntios 1.3-6

Façamos algumas perguntas para nos ajudar a entender as nossas próprias motivações para sermos abençoados e abençoadores de Deus: Desejamos de fato as bênçãos divinas? Queremos as bênçãos para abençoar aos outros ou somente para nós? Qual a relação das bênçãos materiais e transitórias com as espirituais e eternas? Estamos prontos a perder, obedecer e viver em confiança, inclusive nos momentos de angústia pela espera ou pela indefinição do caminho a seguir?

Pr. Carlos Nogueira Martins
Associação Apascentar